O mercado brasileiro de geradores eólicos, em franca expansão em nosso país atualmente, utiliza-se de parafusos e fixadores fabricados em quatro tipos básicos de aços, a saber (Tabela 1).
As diferenças de composição química, bem como o efeito dos diferentes elementos de liga de cada tipo de aço, definem as propriedades mecânica obtidas no tratamento térmico, em particular no que ser refere à temperabilidade. Assim a profundidade na qual é possível a obtenção de Martensita bem como a máxima dureza mudam de aço para aço, e também para diferentes bitolas.
Igualmente, as diferenças de temperabilidade vão interferir nos valores dos demais ensaios utilizados neste tipo de peça, tais como ensaios de impacto e ensaios de tração.
Importante observar que as especificações do mercado de Geradores Eólicos é similar ao mercado de Óleo e Gás, e os dados do presente trabalho poderão ser utilizados igualmente nos dois mercados, ressalvadas as diferenças especificadas em norma. A Fig. 1 ilustra um parafuso de bitola M64 típico.
Requisitos deste Mercado para Tratamentos Térmicos - Normas
Os grandes players deste mercado terceirizam a fabricação de parafusos, porcas e fixadores em geral com diversas empresas, tendo em comum as especificações:
- Todas devem atender aos requisitos da ISO 898-1_2009E, Mechanical Properties of fasteners made of carbon steels and alloy steels – Part 1, International Standard 2009, 4ª edição. Esta norma estabelece as condições físico, químico e mecânicas de parafusos, porcas e fixadores, fabricados em aço Carbono e baixa Liga para uso na faixa de temperaturas de 10 a 35ºC, com bitolas variando de M1,5 a M39, rosca grossa e fina de M8 x 1 a M39 x 3;
- Não há até o momento uma especificação comum a todos os players, mas quando há algum requisito especial, há uma negociação à parte com desvio em relação à ISO 898;
- O mercado de geradores eólicos ainda não especifica esta necessidade, mas para componentes similares, a indústria do óleo e Gás, exige fornos que atendam às especificações da API 6A, particularmente no que se refere à avaliação de acuracidade e uniformidade de temperatura;
- Apesar do mercado não exigir diretamente a API 6A, há uma exigência tácita dos equipamentos de tempera atenderem aos requisitos gerais da norma AMS2750E, que regulamenta os procedimentos e requisitos de fornos em termos de pirometria;
- Para as situações em que as bitolas superam as cobertas pela ISO 898, em particular a preparação de corpos de prova para ensaios mecânicos, há uma negociação entre as partes para adaptações que permitam atendimento da norma;
- A norma 898-1 cobre uma ampla faixa de requisitos mecânicos, mas em princípio, o mercado tem trabalhado invariavelmente na faixa do 10.9 (1000 Mpa nominal no valor de Limite de Resistencia);
- De acordo com os principais fabricantes, o consumidor final exige um relatório, a cada lote, executado em empresa certificada, contendo os resultados de ensaios mecânicos e metalográficos - ensaio de tração (limite de resistência, limite de escoamento, alongamento, redução de área), impacto (Ensaio Charpy V-notch), dureza (superfície, núcleo e microdureza superficial), composição química, e microestrutura.
Características dos Aços
Temperabilidade: o principal requisito para os aços utilizados neste mercado é a temperabilidade. A Norma ISO 898 – 1 exige valores da ordem de 32 a 39 HRC, para a classe 10.9. Entenda-se o termo temperabilidade como a “capacidade de um aço, no processo de tempera, permitir transformação martensítica, a uma dada profundidade” [3].
A temperabilidade de um aço depende essencialmente da composição química, sendo o C o elemento de liga mais importante. De fato, o teor de C define a temperabilidade de um aço, interferindo, inclusive, na dureza máxima obtida conforme a Fig. 2, mas deve-se considerar também o efeito dos elementos de liga, que em geral con tribuem positivamente para a temperabilidade do aço. Uma forma muito prática e simples de avaliar a temperabilidade de um aço, é o Ensaio Jominy [5], que correlaciona a dureza obtida em função da velocidade de resfriamento na tempera. A grande maioria dos aços carbono e baixa liga tem os dados de ensaio disponíveis na literatura, e são conhecidos como CURVAS JOMINY. As Figs. 3 e 4 ilustram algumas da curvas Jominy disponíveis.
Avaliação dos Aços Utilizados no Mercado Eólico
A observação das composições químicas dos aços na tabela 1, de imediato nos traz a variação no teor de C, de 0,36% a 0,45%, indicando que os aços AISI 4340 e 4142 Mod., tem a temperabilidade substancialmente mais elevada. Some-se a isso teores elevados de Molibdenio (que tem grande efeito na temperabilidade) e temos os principais candidatos para melhor seleção de aço para este tipo de aplicação, vale dizer aqueles que vão atingir melhores propriedades mecânicas tratados nas mesmas condições. A comparação entre os aços AISI 4340 e AISI 4140, pela curvas Jominy, mostra também a nítida vantagem no uso do AISI 4340 em termos de obtenção de propriedades mecânicas. A linha vermelha indicada nos gráficos, corresponde à barra de bitola 60 mm, dureza tomada no centro, na condição temperada em óleo, ambos materiais austenitizados a 845ºC. O AISI 4340 apresenta dureza na faixa de 48/58 HRC enquanto que o AISI 4140 vai de 36/54 HRC.
Conclusão
Esta parte do trabalho tem a intenção somente de alinhar as informações disponíveis no mercado eólico, no que se refere aos tipos de aços utilizados, e as normas que regem suas propriedades e especificações. A segunda parte do trabalho, deverá discutir os resultados com diferentes bitolas, dos 4 tipos de aços usados, e tentar estabelecer uma “tabela” que oriente o projetista quanto ao tipo de aço a ser utilizado em função da bitola e da dureza especificadas, considerando que cada um dos aços tem preços diferentes, impactando nos custos industriais.
Referências
- Atlas of isothermal Transformation and Coolling Transformation Diagrams, ASM, 1977, USA
- INTERNATIONAL STANDARD, ISO 898-1, Mechanical Properties of fasteners, made for carbono steels and low alloy steels; 4th ed., 2009, Switzerland
- MEI, Paulo, COSTA E SILVA, André Luiz da, AÇOS E LIGAS ESPECIAIS, Eletrometal, 2ª. Ed, 1988
- METALS HANDBOOK, vol. 1, 10ª. Ed., ASM International, Ohio Park, USA, 1990.
- CANALE, Lauralice, TEMPERABILIDADE, notas de aula, https://www.edisciplinas.usp.br/pluginfilePHP/3629506/mod_resource/content/1/aula%2012%20Temperabilidade%20laura.pdf
PARA MAIS INFORMAÇÕES:
Contate Shun Yoshida, engenheiro metalurgista, responsável por Engenharia e Desenvolvimento na Combustol Tratamento de Metais Ltda; e-mail: engenharia.tratamento@combustol.com.br; web: www.combustol.com.br.
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