Doutor sempre foi fascinado por qualquer coisa envolvendo cementação. Nitretação gasosa não é uma exceção, sendo uma tecnologia aparentemente antiga e bem conhecida, com tão poucas mudanças, que fica a pergunta: “O que há de novo?”. Bem, como será demonstrado, há muita novidade. Vamos aprender um pouco mais.
Panorama Histórico
A Nitretação Gasosa do ferro e do aço é um processo termoquímico datado há mais de 100 anos. O Dr. Adolph Machlet (EUA) da American Gas Company of Elizabeth, em Nova Jersey, patenteou em 1913 o primeiro processo de Nitretação Gasosa que utilizava uma atmosfera de amônia. Em 1914, ele também patenteou um processo de Nitrocarbonetação utilizando uma mistura de amônia e hidrocarbonetos. Então, Dr Adolph Fry (Alemanha) da Krupps Steel Company patenteou em 1924 um processo que também utilizava atmosfera de amônia pura. O trabalho investigativo de Fry em processos de nitretação aconteceu na mesma época que o de Machlet, mas foi interrompido pela Primeira Guerra Mundial. O estudo de Fry também levou ao desenvolvimento e patentes de aços projetados especificamente para a nitretação-aços Nitralloy, contendo alumínio e cromo.
Estes processos de nitretação de etapa única foram levados ao máximo do potencial do nitrogênio e resultaram em camadas frágeis, altamente porosas, que possuem carbonitretos de ferro nos contornos de grão. Para a maioria das peças, essa microestrutura inadequada exigia a remoção da “camada branca” produzida, normalmente por esmerilhamento. A partir de 1922, iniciou-se um estudo para obter as relações entre ferro e nitrogênio conduzido por US Bureau of Standards (Departamento de Normas dos Estados Unidos) utilizando amostras nitretadas. Essa pesquisa foi apoiada por C. B. Sawyer e Fry, que estavam ambos trabalhando ativamente nesse assunto por volta de 1923 e ofereceram versões de um diagrama de fases de equilíbrio do sistema ferro-nitrogênio. Estes esforços resultaram no estabelecimento de um diagrama atualizado em 1929.
Na década de 30, E. Lehrer (Alemanha), introduziu para o sistema Fe-N um diagrama relacionando temperatura e potencial do nitrogênio. Isto permitiu determinar com precisão os limites de fase no sistema para composição e temperatura. O diagrama de Lehrer mostra a solubilidade do nitrogênio em ferrita como função do potencial de nitretação. A esta altura, folhas finíssimas de ferro eram nitretadas em misturas gasosas em escoamento compostas de amônia e hidrogênio. Isto permitiu a maior compreensão do processo de nitretação, e da microestrutura resultante da camada.
Então, o foco dos estudos foi em reduzir o potencial de nitrogênio e a formação da problemática camada branca, e culminou em uma patente realizada por Carl Floe (EUA) utilizando um Processo de Nitretação em Duas Etapas em uma atmosfera de amônia e amônia dissociada, em 1943.
O Processo Floe (pronuncia-se “flow”) criou uma camada rica em nitrogênio no primeiro estágio então difundiu essa camada no segundo estágio para produzir uma microestrutura otimizada e diminuir a necessidade de tratamento térmico de retificação. Este processo ajudou a desenvolver mais precisamente a espessura da camada e a microestrutura desejadas.
Desenvolvimentos Modernos
Nitretação Gasosa em etapa única e em duas etapas, como originalmente desenvolvidas, continuam em uso. Na década de 90, no entanto, Leszek Maldzinski (Polônia) modificou o diagrama de Lehrer para incorporar curvas de concentração constante, após analisar os resultados dos experimentos envolvendo também folhas finíssimas de ferro. (Fig. 1).
Em termos simples, estas curvas representam a concentração constante de nitrogênio em ferro (ambos na superfície e no contorno da interface) como função da temperatura do potencial do nitrogênio. Isto superou a falha do Diagrama de Lehrer, no qual prevê a estrutura da fase da camada nitretada, mas não fornece informações sobre as concentrações de nitrogênio (nas fases α-alfa, γ’- gama‘ e έ-épsilon) como função da temperatura e potencial de nitretação. Esta é a base para a compreensão da cinética da formação da camada nitretada.
Portanto, não apenas podemos determinar o potencial de nitretação em qualquer temperatura, mas também podemos predizer as fases microestruturais que serão produzidas, construindo o caminho para simuladores de processo. Consequentemente, o processo de nitretação moderna nasceu e todos os equipamento recentes, controles e processos em uso atualmente são baseados nesse diagrama.
Colocando Teoria na Prática
Nitretação é um processo de difusão gasosa no qual o nitrogênio é absorvido na superfície do aço (Fig. 2). O processo começa na superfície da peça com a formação de uma camada composta (conhecida como camada branca) que depende muito da composição do aço (e principalmente do teor de carbono).
As fases formadas na camada são a épsilon (έ) e a austenita primária (γ’). Cada uma possui atributos que conferem propriedades mecânicas para a camada e podem variar percentualmente como função da temperatura e da composição do gás. A espessura da camada composta é função do material (aço comum forma camada mais espessa do que aço liga.), temperatura, tempo e a composição do gás de processo.
Abaixo da camada composta está a camada de difusão, onde a difusão do nitrogênio afastado da superfície pode formar nitretos, e em alguns casos, carbonitretos.Normalmente a zona composta terá elevada dureza, boa resistência ao desgaste, resistência à corrosão melhorada e outras propriedades tribológicas.
O parâmetro que define a taxa de dissociação da amônia é o potencial de nitretação (KN). Na prática o potencial é selecionado para formar a espessura e microestrutura da camada exigidas. Quanto maior o potencial de nitretação, maior é a concentração de nitrogênio tanto na superfície quando nas fases presentes. Dessa maneira, para manter um dado potencial, deve-se aumentar o fluxo de amônia. Claramente quanto maior o potencial necessário, maior o escoamento de amônia, o mesmo acontece com a temperatura. Quanto maior a temperatura, maior o fluxo de amônia. Atualmente, processos de nitretação avançados controlam a taxa de escoamento da amônia em um forno de retorta a uma dada temperatura, e como resultado são capazes de produzir camadas compostas de fase única (alfa), duas fases (austenita primária e alfa) e três fases (épsilon, alfa e austenita primária).
Lições Aprendidas
Algumas lições práticas foram oferecidas para a indústria e podem ser documentadas como segue:
Aumentar a temperatura irá aumentar a espessura da camada e aumentar a camada branca, proporcionando uma atmosfera que permita a formação não controlada de camada branca;
Ajustar o potencial de nitretação para se relacionar com a fase desejada na superfície da peça. Carbono irá alterar o contorno da fase épsilon para menores potenciais, aumentando a quantidade de elementos de construção de nitretos, o que irá mudar os limites para maiores potenciais de nitretação;
Elementos de construção de nitretos possuem elevado grau de impacto obre o fluxo de nitrogênio necessário para saturar a estrutura. Assim sendo diluir a atmosfera com nitrogênio ou tratar a peça em baixas pressões irá parar a nitretação de aços de alta liga mais cedo quando comparado a aços baixo carbono.
Resumo
A Nitretação Gasosa voltou às suas raízes, exigindo apenas a amônia como gás de processo em sistemas especialmente projetados para diminuir ou parar o fluxo de gás para alcançar a desejada estrutura metalúrgica e a dureza. Os fluxos são controlados e minimizados por simuladores de processo e sensores simples. Emissões desses sistemas são extremamente rápidas, assim então não podemos dizer que o processo de nitretação não acontece no prestador de serviços de tratamento térmico pelo teor da amônia no ar. IH
Referências
- Steel Heat Treatment Handbook, George E. Totten and Maurice A, H. Howes (Eds.), Marcel Dekker, Inc., 1997;
- Patent No 85924, “Method of Gas Nitriding,” Poland, 11.06.1977;
- “ASM Handbook, Heat Treating, Volume 4, ASM International, 1991;
- Zys´k J., “Rozwój azotowania gazowego stopów z·elaza” (in Polish), Institute of Precision Mechanics, Warsaw, 2008;
- Epstein, S., et. al, “Observations on the Iron-Nitrogen System,” Bureau of Standards Journal of Research, 1929;
- “An Introduction to Nitriding,” Practical Nitriding and Nitrocarburizing, ASM International, 2003;
- Hofman, Agnieszka et. al, “Consumption of Ammonia in the ZeroFlow® Regulated Gas Nitriding and the Processes Used to Date,” Conference Proceedings, SECO/WARWICK 19th Heat Treatment Technical Seminar on New Trends in Heat Treatment, 2016;
- Winter, Karl-Michael, “Gaseous Nitriding: In Theory and In Real Life,” United Process Controls white paper, 2009.
Report Abusive Comment