Caros leitores, iniciamos o ano diante de uma forte projeção da política em nosso meio industrial, influenciando em capitais e bolsa, credibilidade do mercado e na situação econômica na rota de ascensão do Brasil, mas diante de todas adversidades, erro seria esperar para desenhar uma estratégia tecnológica de P&D, que, de certa forma, ditará o sucesso das empresas em um futuro próximo. E é neste sentido que gostaria de acenar para uma oportunidade que desperta a atenção das comunidades científica e tecnológica, a qual chamamos de Manufatura Aditiva e se qualifica dentro da “Quarta Revolução Industrial”. Muitos a confudem com a impressão 3D, mas não se limita só a esta tecnologia, consistindo em outras abordagens na construção de produtos na forma de adição contínua de materiais. Antes de debater seus detalhes, alerto aos nossos leitores que temos realmente uma oportunidade de caminhar junto com o mundo, ou pelo menos, com pouca defasagem de tempo e assim, evitar um atraso não recuperável da nossa posição, como aconteceu em diversas frentes anteriores, como por exemplo em casos como célula a combustível, nanotecnologia e a recente eletrificação de veículos, das quais, tivemos oportunidades de participar desde seu início, mas perdemos em quantidade e qualidade de dedicação.

Para compartilhar as estratégias do tema Manufatura Aditiva, sumarizo itens que nos localizam neste campo e despertam nossos interesses. Portanto, cito os desafios na produção de componentes em larga escala com baixo níveis de defeitos a um custo competitivo e uma qualidade satisfatória, a qual pode permitir a liberdade de geometria, flexibilidade de produção e eficiência no uso dos materiais.


"Diante de um cenário altamente desafiador, pergunto qual é a movimentação no Brasil para direcionar estes campos neste momento”


A grande revolução está na mudança disruptiva dos conceitos de produção de produtos e tornará nosso universo bem diferente do que conhecemos hoje e enfatizo que a economia global do setor industrial será exposta a oportunidades e ameaças e apenas sobrevirão aqueles que se prepararem melhor a este cenário. Direcionando esta discusão para o setor automotivo, a nossa imaginação atinge a ousadia da podução por completa de um veículo pela Manufatura Aditiva, isto é, surgirão infinitas oportunidades ao longo dos anos, deste a construção de um pequena célula óptica até a uma carroceria e motorização inteira de um veículo.

Diante de um cenário no mínimo muito obscuro, as empresas estão se mobilizando para lidar com este tema, onde estão sendo criados grupos dedicados para entender a tecnologia e seu impacto no futuro, participando consultores, cientistas com auxílio de áreas de finança e comercial e com isto, se preparar para construir um futuro lidando com este tema altamente estratégico. Por outro lado, também já percebe-se uma movimentação global de empresas se associando, outras sendo criadas e também a descontinuação iminente de campos e negócios que serão fortemente afetados no futuro.

Mas o tema ainda não está totalmente entendido por todos. Estou falando em construir um produto através de uma imagem digitalizada e na ponta da linha de produção, recebê-lo materizado em escala real, sem precisar de fundições, estamparias, forjarias, injeções e usinagens. Dando mais subsídio ao nosso leitor, o momento é de entender melhor esta situação e as oportunidades, antes de tomar uma decisão e direcionar aos investimentos, por isto, as oportunidades de P&D são imensas e devem ser consideradas, com as citadas, tomando por exemplos: FDM (deposição por fusão), LOM (manufatura de objeto laminado), 3DP (impressão 3D), SLS (sinterização a laser), LENS (netshape a laser), SLA (esterolitorgrafia), BEM (fusão por sonda de eletrons) e ainda outras técnicas que estão sendo desenvolvidas na área de metalurgia dos pós[1].

Diante de um cenário altamente desafiador, pergunto qual é a movimentação no Brasil para direcionar estes campos neste momento e, portanto, respondo que há uma singela estratégia em considerar estes temas como parte de políticas e editais públicos.

O tema Manufatura Aditiva é tão importante que sua abrangência se dá na área de manufatura e muito pouco na área de materiais, tanto que já está incluso na Manufatura 4.0 e manufatura avançada, e o mesmo está sendo abordado na Rota 2030 pelo MDIC[2], todavia, ainda em análise nos órgãos brasileiros. Por outro lado, o MCTIC tenta atuar no campo das Tecnologias Convergentes[3]. A Fapesp publicou recentemente um edital público para atuar no estado de São Paulo[4].

Enquanto este tema está sendo abordado pelos orgões públicos, mais intenso pelo MDIC pelo seu caráter manufaturável, alerto a comunidade de materiais que ele está muito relacionado aos materiais, porque pouco se conhece de suas propriedades e desempenho. Neste sentido, órgãos internacionais, como a ASTM, criaram o comitê F42[5] e juntamente com a ISO atuam no MTC (Manufacturing Technolgy Center) para lidar com as formas de especificar e avaliar estes novos produtos.

Meu desafio com os leitores é sempre localizá-los em um cenário tecnológico e relato que este tema em questão está aberto e ainda é muito embrionário aqui no Brasil, merecendo a atenção de todos para acompanharem de perto os campos de maiores interesses. Por isso, neste momento, ainda não arrisco indicar uma rota específica, e sim fazer parte da abordagem por completo, acompanhando eventos, discussão e debates. Neste sentido, cito o próximo evento importante neste cenário que acontecerá em breve, no dia 27 de março de 2018, patrocinado pela empresa VirtualCAE e ainda em avaliação pela Fapesp, chamado de 1° Simpósio Brasileiro de Manufatura Aditiva, a ser realizado no Hotel Mercure, em Santo André. Tenho a certeza que em muito breve as instituições brasileiras estarão lotadas de temas de P&D sobre este campo e defendo a seguinte visão: o sucesso tecnológico no futuro está sendo contruído agora. Um grande abraço e até a próxima edição da IH.

 

Referências

  1. Additive Manufacturing of Materials Viable Techniques, Metals, Advances, Advantages, and Applications; T.S. Srivatsan, K. Manigandan, and T.S. Sudarshan; 2016;
  2. http://www.mdic.gov.br/index.php/inovacao/fomento-a-inovacao/manufatura-avancada;
  3. http://www.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/tecnologia/tecnologias_convergentes/arquivos/Cartilha-Plano-de-CTI_WEB.pdf;
  4. http://www.fapesp.br/10988;
  5. https://www.astm.org/COMMITTEE/F42.